Empresários capixabas sofreram um golpe do aplicativo “pasckell” que envolveu não só a Família Dadalto e o inglês Larry Stoodley com sua esposa Lorraine, mas também contou com o aval do advogado Márcio Valentim. Em 2016, o conhecido sobrenome em terras capixabas – Dadalto – e a empresa de investimento Uniletra, que à época fazia parte do Grupo Dadalto, foram usados para atrair as vítimas antes de revelada a decadência da família, inclusive moral.
Tudo isso ocorreu antes de vir a público a fraude que gerou a intervenção do Banco Central e bloqueio dos bens móveis, imóveis e dinheiro das empresas e dos envolvidos: Alessandro Dadalto, seu irmão Vagner Dadalto, seu pai Osvaldo Dadalto e sócios capixabas como Geraldo Carneiro e Wender Cunha de Paula, a chamada turma do Iate Clube.
Após cinco anos do recolhimento de milhões de reais dos investidores, com o casal Larry Stoodley e Lorraine vivendo em ampla luxo, foi descoberto em 2021 que o aplicativo desapareceu. Não houve nenhuma prestação de contas. Alessandro Dadalto então convocou os investidores e organizou outro golpe com o inglês, usando o advogado Márcio Valentim.
Segundo uma fonte, em reunião ocorrida dentro da empresa Uniletras, o advogado Valentim garantiu que o inglês tinha um SWIF, documento de transferência internacional de dinheiro, no valor de 27 milhões de Euros (R$ 162 milhões de reais). Essa seria uma parcela de um total de seis, que totalizariam 300 milhões de Euros relativos a um negócio na Alemanha envolvendo outro aplicativo. Chegaram a mostrar na reunião uma xerox muito mal feita desse suposto SWIF, onde se lia o nome “Santander United Kingdom”. Esse negócio na Alemanha reembolsaria os empresários capixabas lesados pelo golpe. Só que para pegar o dinheiro, Larry Stoodley teria que ir à Alemanha e os investidores capixabas teriam que pagar seus custos de hotel, passagem, alimentação, advogados alemães, contadores e impostos.
Somente pelo aval do advogado Márcio Valentim, que induziu os investidores, foi dado outro golpe no montante de quase R$ 300 mil reais, com a promessa de que Larry iria ao banco na Alemanha para somente retirar o dinheiro, pois o negócio já tinha sido fechado. Alessandro Dadalto disse que quem não pagasse, não seria reembolsado pelo que gastou com o packsell (primeiro golpe). Essa ameaça foi registrada em um grupo de WhatsApp pelo próprio Dadalto.
Uma das vítimas argumentou: “O advogado Márcio Valentim alega ter estudado e pesquisado o documento internacional com Alessandro Dadalto. Sua afirmação foi colocada em ata. Só que como o causídico atesta a existência de um documento que nunca apareceu no mundo real? Que pesquisa foi essa que ele fez? As vítimas merecem resposta. Parece ser uma nova fraude e estelionato do mesmo grupo”.
Ocorre que a partir do momento em que os empresários capixabas liberaram o dinheiro como empréstimo para a viagem do inglês à Alemanha, inúmeras desculpas ocorreram para justificar o atraso do dinheiro.
Isso perdura por mais de um ano, com desculpas variadas. Primeiro, era necessário pagar impostos atrasados de uma empresa do inglês Larry na Inglaterra. Depois, falaram que tinha que abrir outra empresa na Alemanha. Logo em seguida, alegaram que o aplicativo tinha que ser aprovado pela receita alemã diante do alto valor envolvido na negociação para provar que não era lavagem de dinheiro de atividade ilícita. Agora, inventaram que depende do visto de trabalho de Larry na Alemanha, que não saiu até hoje por conta da “pandemia covid”, mesmo com o país já aberto e funcionando normalmente.
O advogado Márcio Valentim, avalista do novo golpe, desapareceu e Alessandro Dadalto afirma que não há mentiras nem contradições. Dadalto diz que Larry não tem como saber de todos os procedimentos exigidos na Alemanha para retirar o dinheiro, ao contrário do que afirmaram quando pegaram a dinheiro dos investidores capixabas. “Era só chegar, assinar papéis no banco e retirar o dinheiro, com a presença do bilionário alemão que fechou o tal negócio com o inglês”.
Nem a família Dadalto, nem Larry Stoodley e sua esposa Lorraine, nem o advogado Márcio Valentim revelam o nome do bilionário alemão que pagaria o SWIF a Larry, em seis parcelas de 27 milhões de Euros (162 milhões de reais). Chamam-no de “J” e afirmam ser um idoso com mais de 90 anos, dono de grandes empresas de pedágios na Alemanha. Que simplesmente simpatizou com Larry porque ele “lembra um amigo que morreu na segunda guerra”. Simples assim.
O inglês fugiu do Brasil com sua esposa Lorraine Stoodley para os EUA, depois de revelado novo golpe aplicado por ele envolvendo venda de mármore e granito do Espírito Santo para montar cozinhas na Inglaterra. Ele prometia um retorno surreal de 9% ao mês para os investidores que o ajudassem. Chegou a oferecer em garantia uma BMW de 2016 que era financiada, revelando mais uma vez extrema má-fé. Foi denunciado na Polícia Civil e fugiu.
Ação civil pública
Ação do MP contra a família Dadalto e sócios em razão da intervenção do Banco Central em suas empresas por fraudes contra investidores e corrupção na gestão empresarial.
O BC bloqueou as contas e bens das empresas e dos sócios, sendo que o MP propôs ação para responsabilização e ressarcimento, obtendo também bloqueios judiciais do patrimônio e do dinheiro.
Após esse fato, os empresários capixabas que adquiriram o aplicativo Packsell desconfiaram que caíram em um golpe e buscaram informações sobre a existência real do aplicativo. Depois de muito insistirem, em e-mail em inglês, sem saber com quem se correspondiam, tiveram a informação de que o projeto faliu, sem prestação de contas nenhuma. Enquanto isso, Alessandro Dadalto, Larry Stoodley e seus sócios continuavam a vender certificados no ES como se o aplicativo estivesse vivo e tendo sucesso no lançamento na África, quando já nem existia mais, se é que um dia existiu.