O PT-ES está numa encruzilhada. Há longo tempo – mais de duas décadas – se encontra numa política aliancista caudatária, ora com Paulo Hartung ora com Renato Casagrande. Vê-se podadas as possibilidades de manter-se nessa política. Só lhe resta andar com a sua identidade e com as próprias pernas.
Paulo Hartung – o Brasil sabe – foi aliado de primeiríssima hora do golpista e traidor Michel Temer e faz parte do (P)MDB que movimentou o golpe e está desgovernando o país desde então, inclusive, com uma representante, Ana Paula Vescovi, na secretaria executiva do Ministério da Fazenda.
Renato Casagrande e seu partido, PSB, não ficam muito atrás, apoiaram e participaram do governo dos canalhas, apenas desembarcando da nau dos ratos há pouco tempo, quando perceberam que é uma nau desgovernada e sem porto seguro na economia, pois trata-se de um fracasso total. É uma nau pirata, pilha o país e não tem onde se ancorar.
O grupo do presidente do PT-ES, João Coser, fez parte do governo PH, ou seja: coexistiu e contribuiu com um governo aliado dos golpistas e desmoralizou o partido.
Apesar disso, se esse grupo pudesse estaria aliado a PH, porque continua com o domínio da direção, e se não pudesse, iria com Renato Casagrande. Ocorre que não pode, desta vez não pode contrariar a resolução partidária que veta aliança com golpistas do MDB, e o PSB, tudo indica, fará aliança com o candidato Ciro Gomes.
O PT estadual tem que mostrar a sua cara. Mas qual cara? A da promiscuidade com o golpista PH? Evidente que não! Esse PT de Coser e companhia tem que se penitenciar e assumir o crasso e grave erro e entender que para corrigir o malfeito é mister um PT autêntico, coerente com os seus estatutos.
Art. 1º. O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma associação voluntária de cidadãos e cidadãs que se propõem a lutar por democracia, pluralidade, solidariedade, transformações políticas, sociais, institucionais, econômicas, jurídicas e culturais, destinadas a eliminar a exploração, a dominação, a opressão, a desigualdade, a injustiça e a miséria, com o objetivo de construir o socialismo democrático. (Estatuto do PT).
Como a política interna do partido, burocrática e castradora, não fomentou ou possibilitou o surgimento de novos quadros, resta procurar a agulha no palheiro e evitar a saída fácil do candidato laranja, como nos últimos pleitos.
O deputado Helder Salomão é o único que reúne condições de competir, tanto para o Senado como para o governo, com os candidatos de outras legendas, entretanto, não se mostra disposto a ousar e prefere a segurança de sua reeleição. Contudo, ainda é crível que a direção nacional e local o convença, mediante a seguinte engenharia: 1 – apoio nacional de recursos financeiros e humanos, especialmente do Lula; 2 – em caso de não vitória, apoiá-lo mais ainda na sua candidatura a prefeito de Cariacica; 3 – e ainda, não se elegendo, o diretório estadual assumir, junto com o atual presidente da sigla, a sua (do Helder) escolha para a presidência do PT-ES, mediante renúncia do atual. Acordo público e homologado pela direção nacional.
Esta eleição será polarizada, a favor ou contra o golpismo (suas contrarreformas e entreguismo), com Lula candidato ou como “cabo eleitoral”.
O PT-Rio terá uma candidata, Márcia Tiburi, oriunda do PSOL, preparada e verdadeiramente de esquerda. Em Minas Gerais o PT lançará Dilma Rousseff – que sofrera o golpe do impeachment – ao Senado, competindo contra Aécio Neves (se ele não se acovardar) um dos seus principais algozes. Em Pernambuco, o PT caminha para ter a neta de Miguel Arraes com potencial de Vitória. No Rio Grande do Norte, com a senadora Fátima Bezerra, expoente no enfrentamento aos senadores golpistas, segundo as pesquisas, ela leva considerável vantagem sobre os demais pré-candidatos.
Mulheres que trazem a marca dos golpes da recente história brasileira. Mulheres competentes, preparadas, valentes e corajosas, feministas, mas sobretudo lutadoras da classe trabalhadora.
O candidato fascista, capitão reformado da ditadura militar, escancara o machismo estuprador, misógino, homofóbico e a defesa do autoritarismo militar.
E sendo Lula impedido de candidatar-se, não podemos descartar a possibilidade da senadora Gleisi Hoffmann ser a escolhida por ele como a candidata do Partido dos Trabalhadores, aliás, confesso, é a minha preferida. Cassaram uma mulher, o povo elege outra mulher.
Os conhecidos acontecimentos no país de casos de violência contra as mulheres, os negros e a comunidade LGBT, constituem-se um cenário político e psicológico propulsor à candidatas mulheres.
Marielle é a síntese dessa realidade e estará presente politicamente nestas eleições, clamando por justiça. Mulheres cassadas, golpeadas, violentadas, assassinadas, na luta por mais um degrau na subida emancipatória e por justiça.
O quadro do Espírito Santo nos últimos governos -Paulo Hartung e Renato Casagrande -é o de graves agressões aos direitos humanos. Ambos foram negligentes e abandonaram as comunidades pobres, que ficaram à mercê do crime organizado.
As diversas manifestações políticas foram duramente reprimidas, a exemplo da ordem de Renato Casagrande que permitiu que acontecesse verdadeiro massacre no dia 02 de junho de 2011. Paulo Hartung não ficou atrás, na repressão às lutas sindicais, estudantis e populares. A marca de PH são as masmorras, a de RC são as bundas queimadas em Xuri.
A pedagogia da alternância, patrimônio do MST, foi gravemente ameaçada pelo governo Paulo Hartung, que fechou escolas do campo e fez um corte orçamentário de R$2 milhões, assim que assumiu, e, com é próprio de imperadores, negou-se ao diálogo.
A comunidade da Piedade, no centro de Vitória, no eixo principal da cultura popular, tem assistido imobilizada a assassinatos de seus moradores, e o governo de PH, como fora o de RC, de costas a essas comunidades.
A greve dos policiais militares no estado deixou graves sequelas, tanto aos militares e suas famílias, que participaram da paralisação, quanto, e principalmente, à sociedade capixaba, que chora ainda a mortes de centenas de jovens, sem qualquer retratação do Estado.
O quadro que desenho não é bonito,é dramático. Não é colorido, é preto e branco, machista, misógino, homofóbico e, sobretudo selvagem.
É inspirado nesse quadro que o PT do Espírito Santo (considerando Helder irreversível em sua decisão de não sair candidato à majoritária), se quiser mostrar uma nova cara, tem que apresentar uma candidata ao governo: mulher, negra, articulada e conhecedora da realidade das comunidades abandonadas pelos governos pretéritos.