Fevereiro de 2017 vai ficar marcado na memória do empreendedor capixaba. Não pela greve da PM, não pela ausência do debate entre as partes, mas sim pelo declínio da capacidade da população em empreender e manter negócios no estado. Para entendermos rapidamente a situação:
O mês de fevereiro possui 20 dias úteis. Desses 2 são carnaval, que mesmo não sendo feriado, normalmente acabam sendo tratados como se fosse. A sexta-feira que antecede nunca é muito emocionante no contexto do mundo dos negócios, justamente pelo fato das pessoas estarem com a cabeça na festa. Sobram então 17 dias. A semana corrente já perdeu 3 dias e ao que tudo indica deverá perder toda a semana. Teremos assim, considerando que até o final de semana a rotina possa retornar a normalidade, 12 dias úteis no mês de fevereiro. Como ficarão nossos bravos empreendedores diante dessa situação?
Salários, tributos, despesas de manutenção e em alguns casos, soma-se prejuízos físicos nos negócios, vítimas de saques e vandalismos. Fora isso, teremos que considerar as despesas familiares, uma vez que nosso empreendedor antes de tudo é um ser humano com família. Entramos então nas contas do dia a dia como escola, supermercado, habitação, energia, água e vários outros. Nenhum desses para de cobrar devido a dias de greve ou paralisações. Nenhum tributo federal, estadual ou municipal é congelado devido a problemas internos. Desse cenário então vem a pergunta, “Quem paga a conta? ”. Nesse caso, nosso empreendedor, sobrevivente, forte, destemido, um super-herói, será quem pagará essa conta. Ao final de todo esse corrosivo e impensado processo veremos um aumento no número de negócios que baixam as portas, um aumento no número de pessoas que ficam sem trabalho e um aumento na roda que gira contra a evolução e melhoria do mercado local.
Cabe agora aos municípios e ao estado buscarem mecanismos para minimizar esse que já se torna quase irreversível processo de destruição da capacidade empreendedora do estado do Espírito Santo. Enquanto o foco fica na greve, esquecemos daqueles que pagam os salários, daqueles que produzem e fazem produzir, daqueles que são responsáveis por fazerem a economia girar.
Segundo dados do SEBRAE, em 2014 97% do total de empresas do estado eram Micro e pequenas empresas. Soma-se a isso a evolução geométrica do número de MEI (microempreendedor individual) que no mesmo ano era cerca de 121 mil e até julho de 2016 já chegavam a 162 mil, conclui-se que o resultado inevitável para toda a paralisação do estado será catastrófico. As grandes empresas não sentem esse impacto. Enquanto escrevo os fornos da CVRD funcionam a todo vapor uma vez que eles possuem transporte próprio para os funcionários, mecanismos de segurança interno e o cliente que espera ancorado em nossa costa não depende em nada da situação do estado. Não fazemos aqui uma crítica a eles, pelo contrário, precisamos admirar e valorizar aqueles que conseguem sobreviver a uma crise desse tamanho sem a preocupação do
desemprego. A única forma possível de sobrevivência dos milhares de MEI e MPE será um trabalho em equipe entre poder público e empresários. Assim como os empresários, o poder público também possui contas a pagar que não são interrompidas nesse período e por isso as soluções precisam passar por um diálogo, planejamento e execução, tudo em tempo recorde, caso contrário, muitos podem não resistir a espera.
Nesse contexto cabe a aqueles que cuidam do empreendedorismo nos municípios que de forma emergencial, interrompam suas agendas e olhem para a questão da manutenção dos negócios existentes como sua maior prioridade, uma vez que o impacto de uma falha nesse plano pode significar uma falha nas políticas de combate ao desemprego e nas políticas sociais. Sabemos que em toda crise, novas oportunidades são criadas, mas não podemos esquecer que os negócios são formados por pessoas e essas pessoas são cidadãos de nossa comunidade e trata-los como estatística seria um grave erro cuja fatura viria logo a frente.
“Para informação. O CEVV está desde já planejando encontros setoriais para a próxima semana além de outras medidas práticas, como forma de acelerar o processo de retomada da normalidade empresarial do município. ”