“São tempos de guerra, são tempos sem Sol”
(Edu Lobo em Eu vivo num tempo de guerra).
A crise que o Brasil vive é avassaladoramente negativa para a nação. Sendo uma crise política, institucional e econômica, as consequências são deletérias a todos os componentes da nação: ao povo, ao território, à soberania e à cultura.
Como em toda crise, pode haver um lado positivo, no caso concreto do Brasil, penso que é o amadurecimento da esquerda.
As lideranças partidárias, políticas e sociais não conseguem atuar sem lembrar que um dos seus membros mais importantes, perante a história, está encarcerado, injustamente, pela tirania togada. Se alguma consegue esquecer, com certeza não é de esquerda, porque ser esquerda é ter a solidariedade presente em nossas veias.
Nesse processo de amadurecimento, quero destacar alguns camaradas: o Rui Costa do diminuto PCO, o Boulos e a Manuela, dos pequenos e aguerridos partidos, PSOL e PCdoB, respectivamente, e, sobretudo, pela grandiosa responsabilidade, a Gleisi, presidente do maior partido de esquerda, o Partido dos Trabalhadores.
O golpe evidenciou, mais do que outrora a importância do Legislativo.
Num presidencialismo de coalizão, não há governança e estabilidade sem o Congresso Nacional. Com Lula presidente ou com qualquer outro, não haverá harmonia pra governar se não contar com pelo menos 2/5 + 1 de seus membros.
Se o plano B dos golpistas for implementado, e a Carmem Lúcia já deu os primeiros sinais, no STF, ou seja: a implantação do parlamentarismo através de uma emenda à Constituição, o Congresso avulta de importância.
No plano estadual do ES, não é menos importante e necessário, quando não a maioria, alcançar esse percentual mínimo, para dificultar que a direita capixaba prossiga na trilha do retrocesso e quase todos num beija mão ao PH (Paulo Hartung) ou RC (Renato Casagrande).
O discurso organiza, mas é a prática que amadurece.
Os partidos de esquerda devem lançar seus principais quadros, com potencialidade eleitoral, para concorrer aos Legislativos.
Marcar posição, todos já o fizeram. É hora de ocupar espaço nos parlamentos.
Não haverá milagres. Nem Boulos e nem Manuela serão eleitos, contudo, suas candidaturas favorecerão sobremaneira aos seus candidatos proporcionais.
Estas eleições estarão inexoravelmente federalizadas, por conseguinte, o divisor deverá ser: contra ou a favor do golpismo; fascismo, conservadorismo e entreguismo versus democracia, desenvolvimento inclusivo e soberania.
A mídia golpista irá, com suas técnicas apuradas, provocar a cizânia entre nós, e para não sermos vítimas, a maturidade será o nosso escudo.
Munido da certeza de trilharmos o caminho da maturidade, quero apontar a importância dos partidos menores dirigirem seus melhores quadros para as candidaturas aos Legislativos estaduais.
A experiência de legislar rende, sem dúvida, frutos organizativos para o próprio partido.
O PCO não existe no Espírito Santo, mas o PSOL e, talvez, o PCdoB têm condições de eleger para o Legislativo estadual, se adotarem a tática certa. O Partido Socialismo e Liberdade acalenta em suas fileiras capixabas uns quatro ou cinco quadros conhecidos e com potencial eleitoral, que, se concentrados na disputa para a ALES, pode conquistar uma cadeira.
Tal movimentação permitirá que a esquerda capixaba não esteja, novamente, refém do paradoxo de um deputado estadual do PSDB ser o expoente da oposição a um governo estadual, cuja marca é a da incomunicabilidade com os movimentos sociais e agressão aos direitos humanos e à classe trabalhadora.
Tão prejudicial à luta de classes, e quiça até pior que um direitista, é um parlamentar com legenda de esquerda e prática pelega.
Desde a saída do valoroso Cláudio Vereza da Assembleia Legislativa, não temos um mandato que esteja à altura da resistência que a conjuntura exige dos lutadores do povo.
advogado e administrador, é coordenador do Fórum Memória, Verdade e Justiça e da Frente Brasil Popular
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02/06/2018
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