sexta-feira, 22 de novembro de 2024 / 07:59
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Churros em dias nublados! – Crônica de Flávia Varela

A salinha, como era conhecida o “setor A” da faculdade dos atores da vida, estava em festa. Naquele dia, iria chegar uma nova integrante: mulata, magra, com 1,50m de pura bravura. Ela seria recepcionada por João, o gerente: gordo, alto, de sorriso largo, mas sem muito freio na língua.

O gerente da salinha era responsável pela triagem de novos integrantes. O requisito número um para entrar era ter um parafuso a menos. O dois, era ter sonhos. Em outrora, foi assim que lá entrou o Pavão Misterioso, fiel escudeiro de João. Pavão passou quase três anos na salinha procurando um lugar ao sol até decidir jogar tudo para o alto para cultuar os músculos no Crossfit. Era um pavão porque chamava a atenção por onde passava e misterioso porque quase não abria a boca.

Antes de ir embora, Pavão confabulava com João. Afinal, quem era essa intrusa que dava bom dia e chegava assim, sem a devida autorização dos veteranos? Decidiram que para ser aceita deveria passar por um teste, um teste de paciência.

Seria tentada além das forças até explodir e dizer tchau. Para essa missão árdua fora chamado, primeiramente, Sebastião que apresentava um tique nervoso de balançar as pernas constantemente. Ah, como aquilo irritava. O homem era cheio das manias. Entre outras posturas, gostava de falar de futebol como se estivesse no estádio e fosse o melhor amigo do Neymar.

No total, a sala tinha dez integrantes. E para entrar um, teria que sair outro. Foi então que por uma fatalidade na família, Cebolinha foi embora. Mudou de casa, de sala, de emprego, de vida. Teve que amadurecer na marra e disse adeus aos integrantes cedo demais. A vaga seria da mulata?!

Todos que estavam ali tinham seus medos, receios e anseios. Lá, habitavam ainda uma enfermeira, uma rockeira, uma loirinha, um bancário, um dentista avesso a dentes e um jornalista que achava todos ali bobos demais para desperdiçar saliva e tempo com eles.

Mas, tempo era o que sobrava para aquela turminha. O que eles queriam, na verdade, ninguém sabia. Talvez dinheiro, status, poder, amor… Era difícil decifrá-los. A mulata, não tinha rodeios e tampouco mistérios. Era transparente. Era exceção a regra. Queria tomar champagne e sambar na cara da sociedade.

Certo dia, João descobriu que a mulata era avessa ao toque. Seria a última tentativa de expulsá-la de vez da sala. No entanto, não iria usar dessa artimanha, pois descobriu também que a amava. Foi paixão a primeira vista e esse era seu segredo guardado a sete chaves. Não podia mais irritá-la, pois só queria amá-la. Assim, com esse golpe baixo, a mulata  conseguiu a tão almejada vaga na cadeira da vida, mas rejeitou o coitado do mancebo.

Desolado, ele procurou abrigo em outro horizonte. Com mais de 10 anos de sala, decidiu abrir a porta e sair. Ao abri-lá, se deparou com o sol e a luz forte do dia. Já havia esquecido como a vida poderia ter várias vertentes.Teve, então, uma vontade irresistível de tirar as roupas e sair pelado pelas ruas. Queria vender churros pelado, dizia. Iria levar doce e felicidade para um mundo até então nublado.

 

 

Flávia Varela é jornalista, com especialização em gestão de Marketing. Atua como assessora de Comunicação nas áreas de educação, saúde, bem-estar e política há mais de 10 anos.

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